Depois de um bom tempo sem insônia, ontem a queridinha voltou... chegamos do cinemas às 21:15h, organizei os meninos e fui deitar. Eu tinha cochilado uns 40 min à tarde, mas estava dormindo tão bem ultimamente que não imaginei que minha companheira 'quase inseparável por uns tempos' fosse reaparecer.
Tentei assistir ao Oscar mas fiquei sem paciência, desliguei a TV e fiquei rolando na cama, Ricardo vendo minha angústia falou que eu poderia ligar a TV que não o incomodava, mas não fiz isso, estava sem sono e irritada, definitivamente assistir TV não iria aliviar meu coração. Depois de um bom tempo pra lá e pra cá entendi o que me afligia e levou meu sono pra bem longe. Vimos o filme A dama de ferro, maravilhoso, marcante, tenho lembranças bem distantes de Margareth Tatcher enquanto estava no governo britânico, mas uma frase que ela disse no início do filme ficou martelando em minha cabeça. No momento em que ela foi pedida em casamento disse: "Você sabe que não serei uma dona-de-casa, que não ficarei lavando louça e cuidando de crianças..." e o pretendente disse que era justamente por isso que ela a havia escolhido para casar.
Por que isso mexeu comigo? Confesso que fiz uma análise da minha vida pessoal e profissional e percebi que é impossível uma mulher ser uma profissional de sucesso, realizada e assumir por completo o papel de mãe e organizadora do lar. Quando Victor era pequeno e estava em fase escolar, eu mal conhecia as mães dos amiguinhos dele, ele quase não frequentou as casas desses amigos e tampouco eles foram pra nossa casa, eu não tinha como acompanhar isso, estudava, trabalhava, tinha uma bolsa de iniciação científica na faculdade e meu tempo pra ele era muito curto e minha cabeça estava a mil pra conseguir seguir em frente com meus ideais de juventude, juventude essa que atropelei ao me casar aos 14 anos...
Depois das tempestades (separação dos meus pais, viuvez aos 17 anos, mudançca de cidade) vieram a minha realização em fazer a minha tão sonhada faculdade, trabalhar e conhecer Ricardo. Aos 25 aos casei novamente, estava com meu escritório de design recém montado e muito bem obrigada. Os anos se passaram, tive mais 2 filhos, desfiz a sociedade, trabalhei em agências de publicidade e nessa época eu já tinha 3 filhos, organizava meu lar, as roupas do meu marido, os aniversários dos amiguinhos das crianças, ia pra academia às 5:30h da manhã, trabalhava das 9:00h às 19:00h oficialmente mas houve dias de chegar em casa às 23:00h (muitos dias) e quando eu saía do trabalho na hora do almoço, atravessava a cidade pra ir almoçar com minhas crianças, os colegas de trabalho não entendiam porque eu fazia isso, pois com a distância e o trânsito eu passava míseros 25 a 30 min em casa, mas era nesses poucos minutos que eu almoçava, via as tarefas dos pequenos, orientava como deviam se servir à mesa, definia o jantar, enfim, tentava ser uma boa mãe, boa esposa e uma boa profissional. Me dedicava de corpo e alma à minha família e ao meu trabalho.
Há quase 2 anos estou trabalhando em casa. Uma vida nova muito difícil de começar, mas agora estou certa de que eu precisava desse tempo pra meus filhos, pra minha casa, pra meu marido. Hoje sou amiga de várias mães principalmente de amigos de Arthur, meu caçula, recebo toda semana crianças em casa porque como estou presente posso convidá-los sem muitas preocupações se a secretária vai servir o lanche, se vai monitorar as brincadeiras porque eu estou aqui pra fazer isso, em compensação minha vida profissional ficou num plano que nem sei mais, segundo, terceiro, quarto....e ontem vendo a história de uma mulher bem-sucedida fiquei meio que em estado de choque. Eu nunca almejei ser líder de governo, mas almejei ser EU, almejei ser conhecida por fazer alguma coisa legal, fazer bem-feito, isso não quer dizer ser reconhecida publicamente não, mas no meu meio e trabalhando em casa isso simplesmente não acontece!
O que isso me fez concluir é o que comentei no início desse desabafo (nunca mais eu tinha feito nisso), não dá pra ser excelente mãe e excelente profissional. As duas coisas batem de frente, uma mulher pode educar bem seus filhos trabalhando fora sim, claro que pode, mas tê-los como parceiros durante toda a vida, sem ouvir rancores do tempo em que eram crianças e ela estava ausente, quando não participavam de festinhas da escola ou dos aniversários de amiguinhos porque a mãe não poderia levá-los, isso nada traz de volta. O filme mostra como o filho de MT era distante dela, como a filha reagia diante de determinadas atitudes da mãe e o que o marido falava de vez em quando mesmo sabendo quem ela seria desde o começo. Tudo tem um preço. Às vezes muito alto, outras nem tanto. Meu coração amanheceu aliviado, tenho consciência de que esse tempo que estou dedicando aos meus filhos hoje nunca mais voltará e de certa forma estou recompensando-os pela ausência de tempos atrás, apesar de todo meu esforço na época. Pena que pra Victor esse tempo de agora não reflita em sua vida porque já é um adulto, mas sei que fiz o meu melhor da maneira que conseguia fazer na ápoca em que ele era criança. E como escolhi ser mãe também, tenho certeza que meu tempo de ser profissional em tempo integral chegará e farei novamente o meu melhor, porque sei que fazia com todo empenho e dedicação.
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