Há 8 anos temos uma casa de praia em São Bento - AL, sempre fotografei muito as paisagens locais mas ainda não tinha parado pra registrar as pessoas de lá. Nas férias desse ano, sentada tomando sol, lendo um livro ou só vendo o (pouco) movimento da praia, me chamou atenção a rotina das mulheres com seus filhos catando marisco, os pescadores saindo com suas jangadas em busca do pão de cada dia, crianças tentando pescar camarão pra servirem de isca pra seus pais saírem no outro dia pra o mar e resolvi fazer uns posts sobre isso, começando pelas marisqueiras.
Em São Bento, na maré baixa fica praticamente sem água na margem da praia e quando está alta o banho é uma delícia, não tem ondas, o mar fica de um azul encantador e muito morna, dependendo da hora chega a incomodar. E é com a maré baixa que as mulheres chegam com seus baldes pra catar o marisco. Esse molusco é encontrado na areia, ele fica enterrado e é retirado com a mão e algumas vezes com uma faquinha sem ponta quando está mais profundo.
O sol é castigante nas maioria dos dias, em janeiro tivemos alguns dias nublados e outros poucos chuvosos, mas mesmo assim elas estavam lá em busca de seu sustento.
Quando eu resolvi fotografá-las, cheguei devagar, perguntei se poderia fazer as fotos e todas concordaram, e aproveitei pra conversar um pouco. Foi aí que tive uma noção mais real das vidas dessas mulheres. Muitas delas não tem marido mas tem 3, 4, 5 filhos, catam marisco pra vender e comer. Famílias inteiras saem de casa pra o mar, crianças de todas as idades, como essa que registrei com 3 anos, o menino chorava de cansaço e a mãe me falou que não tinha com quem deixá-lo em casa porque os irmãos maiores também estavam no mar ajudando-a.
Além do sol forte, a posição da catadora não é nada confortável, ficam agachadas na água por muito tempo, até que a maré comece a subir, chegam a ficar de 4 a 5 horas nessa posição mudando de lugar pra achar uma quantidade maior pra encher o balde e antes de colocá-los lá os mariscos são colocados dentro das blusas, dá a impressão de estarem grávidas.
O volume com a concha é grande, mas quando é levado à panela com água até ferver pra soltar o molusco, é impressionante como o que é aproveitado é pouco, assim elas precisam catar uma quantidade muito grande pra chegar a alguns quilos e vender pra os restaurantes e pousadas da cidade, além de sobrar um pouco pra alimentarem suas famílias. O trabalho é árduo...
Uma cena que me chamou atenção foi uma senhora que trabalhava bem em frente à minha casa. Era um dia lindo de sol forte, céu azul, ela estava bem protegida como todas sempre vão, percebi que ela passou todo o tempo com um cigarro na boca e um cachorro sempre ao seu lado. Ví ali que aquela rotina de sol, água, areia fazia parte do dia-a-dia do animal também, ele estava muito à vontade deitado, às vezes correndo pra um lado e pra outro mas sempre perto de sua dona. Cheguei junto e perguntei quantos anos ela tinha, a resposta me surpreendeu, 52, fiquei chocada com o que aquela vida tinha feito com a mulher, o sol havia deixado marcas muito profundas e permanentes em seu rosto, mãos, pernas, apesar do chapéu e da camisa de mangas compridas. E ela ficou por várias horas lá na areia molhada sem água com uma faquinha retirando do mar o seu sustento e quiçá de várias outras pessoas que dependem dela e o cigarro de fumo enrolado em casa pendurado na boca...
E o mar continua lindo, enchendo e secando diariamente e as marisqueiras fazendo de São Bento a cidade onde acontece a Festa do Marisco todos os anos.
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